quinta-feira, 18 de abril de 2013

Entrevista com irmão Yun, o “Homem do Céu”





Uma das histórias mais fascinantes de todos os tempos é a dos primeiros discípulos de Jesus Cristo, registrada no livro de Atos dos Apóstolos. Uma história de coragem, ousadia, perseguições e sofrimentos, mas também da fantástica intervenção de Deus com milagres, curas, conversões e manifestações do poder do Espírito do Santo, que fazem qualquer cristão de hoje ficar boquiaberto e se perguntar: “Por que não vemos mais esse tipo de coisa na Igreja do século 21?”. Na verdade, ainda existem heróis da fé que podem testemunhar grandes experiências e confirmar com suas vidas o ditado que afirma ser “Deus o mesmo ontem, hoje e para sempre”. Em diversos lugares do mundo, eles arriscam a própria vida para levar a mensagem do Evangelho para quem ainda não conhece. Um deles é Liu Zhenying, ou simplesmente Irmão Yun, um dos principais líderes da Igreja doméstica na China nos últimos anos.

Apesar de enfrentar diversas prisões, terríveis torturas, passar fome e ver amigos e familiares perseguidos, ele nunca abandonou a visão de que o Reino de Deus deve começar aqui e agora. Em sua autobiografia ele conta algumas de suas aventuras e aquilo que viu Deus fazer em seu país, onde não há liberdade para pregar a Palavra e os cristãos são duramente perseguidos. São relatos de curas poderosas, conversões impossíveis, um jejum que chegou a 74 dias, para provar a realidade de Jesus Cristo, e uma fuga extraordinária de uma prisão de segurança máxima. Por essas e outras, Yun tornou-se conhecido como o “Homem do Céu”, título de seu livro e apelido que ganhou quando, durante uma batida policial, ao ser interrogado sobre seu verdadeiro nome e endereço, gritou: “Sou um homem do céu, meu lar é o céu!”. O código evitou que seus irmãos na fé ficassem em risco: quando ouviram a frase, todos fugiram para não serem presos.

Atualmente, Yun, prestes a completar 51 anos, está exilado em Frankfurt, Alemanha, com a mulher e os dois filhos. Lá, frequenta uma igreja pentecostal e viaja pelo mundo, divulgado a causa dos cristãos perseguidos na China e um ambicioso projeto missionário do qual participa, o De Volta para Jerusalém, que tem como objetivo levar a Palavra de Deus para os países da chamada Janela 10-40, a região menos evangelizada do mundo. No mês de abril, ao lado do filho Isaac, o “homem do céu” esteve pelo primeira vez no Brasil. Entre os muitos compromissos, orações nas madrugadas e pregações, recebeu ECLÈSIA para falar sobre os Atos de Deus hoje.

ECLÉSIA – Qual é a situação atual da Igreja cristã na China?

IRMÃO YUN – Apesar da constante perseguição, a Igreja tem crescido. Segundo números do governo, os cristãos na China já passam de 100 milhões. Acredito que esse número é real, pois temos uma média de mais de 20 mil conversões todos os dias. A maior parte nas igrejas clandestinas e domésticas. Até, por isso, os crentes sofrem uma constante perseguição. Apesar de pessoas de todas as classes aceitarem Jesus atualmente, muita gente é bastante pobre. Os líderes são presos por reuniões ilegais e sofrem pesadas multas. Como não tem com o que pagar, acabam ficando muito tempo na prisão.

Mesmo após as Olimpíadas de Pequim, em 2008, e com a abertura econômica, a situação ainda permanece tão complicada assim?

Não será tão simples acabar com a perseguição na China. A abertura econômica melhorou muito a situação, permitindo a entrada de empresários cristãos no país. Já as Olimpíadas deram nova oportunidade para a pregação do Evangelho. Entretanto, o cristão ainda pode ser condenado à pena de morte, é proibido falar do Evangelho e são permitidos apenas os cultos da igreja oficial – com hora e local controlados. Quem não cumpre essas determinações pode ser multado, preso, ter seu negócio fechado e, se for estrangeiro, pode ser expulso. Mesmo assim, os crentes continuam pregando. Desde os tempos em que qualquer reunião evangélica era proibida, mesmo as menores, nos lares, há uma grande paixão no chinês que se converte em falar de Cristo para seus amigos e parentes. É assim que a Igreja continua crescendo e sempre oro para que nunca perca essa qualidade.

O senhor é considerado um moderno herói da fé, ao lado de gente como Billy Graham e do irmão André. Muitos são inspirados por suas histórias, como as que conta em O Homem do Céu. Qual é o segredo para uma caminhada bem sucedida com o Senhor?

Muitas pessoas podem me considerar um herói da fé, mas eu sei que também sou um pecador. Na verdade, tenho muitos fracassos, e minhas vitórias foram pelo poder do Espírito Santo. Muitos milagres aconteceram na minha vida, e isso eu posso dizer que é obra do Senhor. Eu não tive muito estudo, mas aprendi, como todo bom cristão, o quanto a Palavra de Deus é poderosa. Desde o primeiro dia que comecei a crer em Jesus Cristo, descobri o quanto cada passagem da Bíblia é verdadeira. E essa crença se tornou a base de toda a minha vida cristã – eu verdadeiramente creio na Palavra de Deus. Quando estive na cadeia, diante de todo aquele sofrimento eu passei pelo vale da sombra da morte, mas a Palavra de Deus veio até a mim me encorajando para que eu lutasse e para que eu fosse fiel até a morte. Se a Bíblia diz que devemos orar, então eu oro; se a Bíblia diz que temos que ser fiéis, então eu sou fiel. Durante o ministério, eu testemunhei muitas pessoas se convertendo para Jesus. Por quê? Porque a Palavra diz “ide para todas as nações e pregai o Evangelho”. Então, Deus vai fazer isso. Por pregar o Evangelho, eu fui açoitado, zombado, injustiçado, passei por muito sofrimento na cadeia. Mas sempre Deus estava comigo e me sua Palavra me suscitava, porque esse é o seu poder. Eu não me envergonho do Evangelho, porque o Evangelho é o poder de Deus. E eu acredito também que quando o Senhor me chamou, eu já estava preparado e tinha convicção desse chamado.

O senhor se converteu ao Evangelho em 1978, época em que Mao Tse Tung estava no poder e a revolução cultural, em plena execução. Como era servir a Deus na China, no auge do regime comunista?

Quando uma pessoa vive no meio do sofrimento, depois de um certo tempo não se sente mais sofrido. Minha mãe e outros pregadores me falaram que os missionários do Ocidente que trouxeram o Evangelho para a China sofreram para pregar o Evangelho. Quando ganhei minha Bíblia, li na Palavra e testemunhei em minha vida que todos aqueles que quiserem seguir Jesus devem estar preparados para levar a cruz. Em uma nação ateísta, onde não há liberdade religiosa, isso é ainda mais significativo. Naquela época, alguém que declarava sua fé e se convertia a Jesus enfrentava falsas testemunhas, era condenado em um julgamento forjado e ia para a cadeia. Ficava lá por anos, até o fim da vida ou até recebia pena de morte. Pior eram as torturas. Essas práticas eram tão doloridas, que com o tempo a pessoa pensava em desistir. Eu mesmo passei por isso. Hoje eu posso dizer que temo ao Senhor porque, em cada situação, a Palavra de Deus me sustentou. Nos piores momentos, ele me lembrava daquele versículo “todos aqueles que queiram viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos”. Foi crucial na minha caminhada transformar a Palavra de Deus em meu fundamento inicial. Logo que me converti, comecei a decorar a Bíblia. Depois, já na prisão, toda a noite, cantava, recitava versículos e pedia a Deus a Palavra e ele trazia à minha mente. Também aproveitava para escrever trechos das Escrituras nos rolos de papel higiênico. Era a única forma de outros presos terem acesso aos textos, já que esse tipo de livro era confiscado, queimado. Eu sempre falo para os missionários e pastores que desejam entrar no mundo muçulmano, no mundo ateísta, para não levarem a Bíblia impressa ou no computador, mas dentro do coração.

Que tipo de tortura o senhor chegou a sofrer nas prisões chinesas?

Enfrentei coisas que para o pessoal do Ocidente é difícil até imaginar. Mas com certeza a soma dessas torturas não chega perto do sofrimento de Cristo na cruz. Havia todo tipo de tortura: agulhas enormes espetadas em seus dedos e embaixo de suas unhas, dormir ao relento ou sem cobertas no duríssimo inverno chinês, tomar choques elétricos, ser preso com algemas muito apertadas, para provocar profundos cortes. Às vezes, os guardas praticavam artes marciais em mim. Uma vez, espancaram-me tentando triturar minhas pernas para que eu não andasse mais e não pudesse pregar o Evangelho. Passei por tudo isso. Sem falar nas torturas psicológicas, com ameaças à minha família e aos irmãos em Cristo. Diante dessas situações, a primeira coisa que vem a sua cabeça é, como Judas, negar Jesus. E se você não tem certeza de que serve o Deus verdadeiro, acaba capitulando. Depois, tentam fazer você delatar locais de culto, irmãos e contatos. Se abrir a boca, toda a família daquela pessoa será duramente perseguida. Preferia morrer a ver que algum irmão foi pego por minha causa. Mas chegar a esse ponto requer entregar a vida diariamente ao Senhor. Ou, como dizemos, “tapar as brechas”. Até hoje trago cicatrizes e cortes em todo o corpo por conta de minhas decisões. Resultado das torturas sofridas naquele tempo. Mas aprendi que nos momentos cruciais Deus sempre dá a vitória e uma estratégia para vencer o sofrimento. Uma delas era fechar os olhos para não ver torturadores e instrumentos de tortura. Apenas me concentrava em Jesus. Não que isso evitasse o medo, mas ajudava a olhar apenas para Cristo. Para seguir o Senhor é preciso pagar um preço, os apóstolos e outros mártires foram decapitados, crucificados de ponta cabeça, queimados. Meu sofrimento é muito menor. Naqueles momentos, também pensava nesses modelos e me sentia encorajado a desafiar a morte.

Parece que o senhor gosta muito de orar. As igrejas que o receberam testemunharam que o senhor tem orado até de madrugada. O senhor acredita que os cristãos orientais esqueceram da importância da oração?

Jesus nos deu um modelo, um exemplo de como servir a Deus. Ele acordava antes de amanhecer e ia à montanha para orar. Em momentos cruciais, antes de tomar decisões, ficava orando a noite toda. Mesmo depois de dias intensos de trabalho ou de ministério, Jesus ainda subia na montanha para orar à noite. Ele é meu modelo. Não ter tempo para Deus é ser muito orgulhoso, pois Jesus, mesmo sendo filho, orava. Somente através da oração o céu se abre e o poder de Deus é derramado. Tenho para mim que aquilo que mais influenciou os discípulos não foram as palavras do Senhor, mas seu exemplo, principalmente no sentido de depender do Pai e confiar, em oração. Por isso, pediram que Jesus os ensinasse a orar. Existe aquele ditado: mais oração, mais poder; menos oração, nenhum poder. Seja uma igreja, seja uma instituição evangélica, seja uma pessoa, pode ter o melhor projeto, mas sem oração, por mais que se esforce nunca dará certo. No final, a pessoa só se sentirá frustrada. Não adianta falar com convicção e autoridade como Pedro, que nunca negará a Cristo. Todos são tentados e mesmo que sejam fortes, cairão. A menos que estejam de joelhos. Realmente, orar e vigiar em oração, e meditar dia e noite a Palavra de Deus, isso é o segredo de uma vida cristã vitoriosa. Não existe avivamento sem esse tipo de vida. O Ocidente só terá avivamentos genuínos quando recobrar a vida de oração. Em qualquer lugar, se o avivamento, o crescimento da Igreja, não vierem acompanhados de uma revolução na vida de oração, é de se estranhar ou contestar esse avivamento. Muitos ouviram que a igreja da Coréia é uma igreja de oração, e eu queria dizer que a igreja na China também é uma igreja de oração. Você vai ver que a pregação dos pastores coreanos não é tão profunda, é uma pregação simples. E você vai ver também que a mensagem dos pregadores chineses também é simples; entretanto têm tanto poder que muitas vidas são convertidas. A mesma coisa acontece quando Jesus pregava, ele pregava com autoridade, diferente dos mestres e sacerdotes. Isso porque a pregação de Jesus tinha poder. E nossa época é uma época em que falta energia, a igreja precisa voltar a restaurar a vida de oração. Vou para muitos lugares em todos os continentes e não me lembro de um monte de coisas. Mas lembro das orações. Se há uma igreja onde alguém quer acordar às quatro, cinco horas da manhã, eu largo tudo e acordo para orar com eles. Quando as igrejas enfrentam divisões, brigas entre líderes, pastores, você pode ver que são fracassadas na oração. Sonho com o dia em que os milhões de crentes aqui no Brasil possam provocar congestionamentos nas ruas por causa das orações das quatro, cinco horas da manhã. (risos)

Tradicionalmente a China é considerada um campo missionário, porém essa realidade vem mudando nos últimos anos. Parece, inclusive, que o país já se prepara para se tornar uma potência no envio de missionários no século 21. Isso é verdade?

Realmente. O mundo inteiro envia recursos para a obra na China, ora pelo Evangelho lá, auxilia de alguma maneira a Igreja Perseguida. Isso é importante, pois o país tem a maior população do planeta, com 1,3 bilhão de habitantes e os cristãos lutam diariamente para levar a Palavra de Deus a todos eles. Mas poucos Ocidentais sabem que cada vez mais intercessores cristãos levantam- se na China, de madrugada, chorando e orando pela Europa, pela América, pela obra de Deus. Acredito que Deus tem um plano para a China. As igrejas de lá estão atendendo o chamado de Deus para levar o Evangelho de volta a Jerusalém. São três fases do trabalho: alcançar o interior do país, depois o Oriente Médio e, por fim, chegar a Jerusalém. Da Grande Muralha ao Muro das Lamentações. Eu acredito que o mover do Espírito Santo levantará muitos dos que estão na China para levar o avivamento para todo o Ocidente e, com esta visão, cumprir esse projeto de Deus.

Dessa forma, de volta para Jerusalém parece ser o projeto missionário de maior impacto da atualidade…

Essa visão não é somente para a China, mas para todas as igrejas do mundo. Só que além de oração é preciso também convicção. Um de nossos ideais é fazer com que esses livros que falam contra Deus se tornem peças de museu e, proporcionando novas oportunidades, possamos reavivar a Europa e entrar no mundo muçulmano, hindu e garantir uma Bíblia para cada pessoa. Apesar de termos hoje na China esse fogo no meio cristão, ainda falta a visão e o preparo transcultural. Por exemplo, aprender a trabalhar como os Ocidentais, enviando empresários com visão também do Reino para lugares como o Oriente Médio e a própria China, profissionais liberais para trabalhar nessas nações. Países comunistas e anti- cristãos estão de braços abertos para essas pessoas. A Igreja Ocidental tem mais de 200 anos de experiência nisso e pode usar os meios de comunicação, como revistas, jornais e televisão para preparar os chineses. Quem entra na China, em certos países do leste asiático, no Tibet deve ter consciência de que vai sofrer, estar convicto do chamado de Deus. Nosso treinamento missionário na China é diferente do Ocidente. Um missionário que queira levar o Evangelho de volta a Jerusalém primeiramente deve orar em todo o lugar e em todo o tempo. Depois de conhecer, deve decorar toda a Bíblia, para não levar um monte de material. Testemunhar de Jesus não é somente pregar no púlpito. Mesmo sem pregar, na prisão, o testemunho continua sendo transmitido. Talvez a Igreja do Ocidente não entenda, mas devemos estar sempre prontos para morrer por Cristo e até fugir da prisão.

Como começou essa visão e quantos missionários já foram enviados?

Essa visão não começou na China, mas no Ocidente e eu estou compartilhando. Depois de divulgar essa visão em todo lugar do mundo, muitas igrejas estão preparando isso. E cada denominação, igreja do mundo todo, está fazendo de uma maneira diferente, mas a visão é única. Pelo menos 500 missionários da China já estão mobilizados e trabalhando para cumprir esse projeto. Creio que, num futuro próximo, Deus vai levantar uns 100 mil missionários para pregar a budistas, hindus e muçulmanos. Eu sei de igrejas na África, na Europa e na América que já respondendo a essa visão. Como é um movimento de Deus, que vai se espalhando, é difícil precisar quantos estão envolvidos em todos os lugares.

Pode explicar melhor a diferença entre o treinamento dos missionários da China em relação aos daqui?

A verdade é que o mover de Deus sempre se renova. Quando eu estava na China, não pensávamos em usar internet, computador, revistas, a mídia. Quando fui morar na Alemanha, percebi que o mover de Deus no Ocidente é diferente daquele feito na China. A Igreja ocidental consegue entrar no mundo muçulmano ou na própria China com empresários, médicos, cientistas, intelectuais e isso deve ser aproveitado. Mas para os mais pobres na China a pregação é feita de boca em boca. Pela ação do Ocidente, um hotel de três, quatro ou cinco estrelas na China pode conceder um espaço para passar conteúdo evangélico, porque eles querem clientes, querem visitas. Usam diversos meios para atrair clientes. Apesar das proibições para tantos na China, existem muitos sites que espalham o conteúdo cristão. Eu mesmo faço agora programas na internet e mesmo de televisão para algumas cidades chinesas. Recentemente, conseguimos um dos maiores canais de televisão para transmiti-lo. Com contrato assinado pelo próprio governo. O que o governo chinês teme é um movimento que possa derruba-lo. Quando tiramos essa característica, não há resistência. Mas também há lugares mais fechados, em que não há nem uma coisa nem outra. Para discipular, treinar, o método usado na China precisa se adaptar a cada realidade, coisa difícil de se entender no Ocidente. A cruz da China e a cruz do Ocidente são diferentes, mas o peso é o mesmo. (risos) Uma pesa pela perseguição, a outra, pela tentação do prazer e da busca desenfreada de riquezas.

O senhor vem de um país em que 50% da população é formada de ateus. Diante de mundo tão cético, no qual Deus é colocado de lado, qual é a importância das experiências sobrenaturais, como aquelas que são narradas em seus livros?

As experiências sobrenaturais de minha fé são importantes, mas muito mais as vidas transformadas, o maior dos milagres de Deus. A grande maioria dos chineses pode não acreditar em Deus, mas acreditam que têm espírito e algo depois da morte. Até mesmo membros do alto escalão do Partido Comunista Chinês e do governo pensam dessa maneira. Não prego e testemunho para derrubar o comunismo, mas para quebrar os pensamentos e levar todos de joelhos ao Senhor Jesus. Ainda falando sobre as experiências que experimento com Deus, não acho que uma é melhor que a outra. Na verdade, importante é viver a cada dia algo novo de Deus em minha vida. De mim, sinceramente, não voltaria a fazer aquele jejum de 74 dias novamente. Mas naquele momento, era algo de Deus, para provar sua força e poder. Mesmo a fuga da prisão ou a maneira como saí da China e fui para a Alemanha, ocasião em que Deus mandou que confiasse nele e fechou os olhos dos inspetores da alfândega para que eu pudesse passar, foram momentos únicos. Tenho apenas a educação fundamental e sei que Deus é quem faz tudo por mim. E o mais importante: usa meu testemunho para levar as pessoas a ele. O cristão deve saber que coisas maiores Deus ainda fará em sua vida. O espetáculo está apenas começando. (risos)

Sua pregação aborda bastante o problema do sofrimento, como algo natural para quem quer servir a Cristo. Mas aqui no Brasil, grande parte das igrejas crescem muito usando o discurso da prosperidade, da bênção. Não é uma distorção, uma deturpação do Evangelho o que está acontecendo no Ocidente?

Esse assunto é muito polêmico, mas meu sofrimento é muito útil para mim. O sofrimento alargou o meu coração, porque pessoalmente não sou uma pessoa de fácil obediência. Deus usou o sofrimento para me transformar. Acredito que na vida do crente, Deus pode transformar a pobreza em riqueza. Se você crer em Jesus, seus pensamentos mudam e, pela fé, podem surgir grandes bênçãos. A Bíblia ensina que Jesus foi açoitado para que nós fôssemos curados, e o castigo que sofreu nos trouxe a paz. Tem cristão que fica com uma enfermidade por muito tempo e não pode provar que a Bíblia tem ajuda. Mas prosperidade não é a essência do caminhar com Deus. Quando cheguei na Europa e na América do Norte, fiquei espantado com os imensos templos, mas não encontrei sinais da presença do Senhor por lá, da autêntica vida do discípulo. Não importa se Deus permite que você esteja numa situação de riqueza ou de pobreza. A sua atitude deve ser sempre viver para o Senhor Jesus. Se tenho dom para os negócios, devo usar isso para abençoar a Igreja, para ajudar os necessitados, para aplicar na obra missionária. Costumo dizer que viver na pobreza também é um dom de Deus, porque não é A igreja precisa ser reformada atualmente, um crente precisa se tornar um discípulo verdadeiro de Jesus Cristo. E a vida cristã tem que ser aplicada todo o dia, em todos os momentos da sua vida. Cada casa deve se transformar numa igreja, e a igreja tem que se transformar numa igreja do Reino. Porque o propósito de Jesus é vir para transformar a cidade, a nação toda. A existência da igreja não somente para alavancar o império pessoal de um líder, mas expandir o Reino de Deus. Jesus não veio ensinar para os crentes que uma megaigreja, uma igreja gigante, mas que a igreja opera para a expansão do Reino.

O senhor ainda pretende um dia voltar para a China?

Muitas vezes eu sonho que estou pregando o Evangelho na China. Acredito que num futuro bem próximo terei a oportunidade de voltar para lá. E eu creio que Deus ouviu nosso clamor, porque a China já está mudando. Mas voltar para a China não é para sempre, mas para cumprir a visão de levantar muitos cristãos chineses, missionários e sair para preparar e levar o Evangelho de volta a Jerusalém. Pessoalmente, meu grande objetivo não é apenas voltar à China, mas me tornar um mártir por Jesus. Tenho certeza que Deus não está olhando somente para a China, mas também para todo o Oriente Médio e de volta para Jerusalém. Isso, na verdade é a visão da minha vida, eu estou testemunhando isso em todos os lugares e perseguindo esse objetivo. Eu amo a minha nação, oro pela salvação da minha nação. E espero que o povo chinês também saiba agradecer a graça da salvação e se levantar para pagar a dívida do Evangelho, através desse movimento de levar o Evangelho de volta para o Oriente Médio, para Jerusalém, pagando até com juros a dívida do Evangelho.

qualquer um que agüenta, que suporta a pobreza. Mas, se não fosse assim, muitos não poderiam ouvir a verdade. Jesus Cristo criou um equilíbrio de que quem tem bastante ajuda aquele que tem pouco. O Reino de Deus não consiste em riqueza material. É um erro ir ao culto apenas atrás disso. Aquele exemplo de Pedro, em Atos 3, quando disse não ter ouro ou prata, mas sim a graça de Deus, o que faria o mendigo levantar e andar, mostra bem o que deve ser a vida do cristão. 

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