quarta-feira, 5 de junho de 2013
Culto Racional X George Whitefield
"Pregava para as multidões ao ar livre, porque as igrejas na Inglaterra doséculo 18 não o recebiam"
A partir de 1737, com apenas 23 anos, George Whitefield (1714-1770) assustou a Inglaterra com uma série de sermões que transformaram a sociedade britânica. Atacado pelo clero, pela imprensa e até por uma multidão de insatisfeitos, Whitefield se tornou o pregador mais popular naquela época. Entretanto, antes disso, ele passou por situações muito semelhantes as que experimentam alguns missionários nos dias atuais. Repetidas vezes, ele teve de pregar fora dos portões do templo pelo simples fato de sua pregação apaixonada ser muito distante da usual formalidade dos pastores daquele tempo. Ele chegou a ser agredido em algumas ocasiões. Na cidade de Basingstoke, por exemplo, foi espancado a pauladas. Em Moorfield, destruíram a mesa que lhe servia de púlpito. Em Exeter, durante uma pregação para dez mil pessoas, Whitefield foi apedrejado.
Nada, porém, podia conter aquela mensagem. A influência de Whitefield cresceu de tal forma que ele era capaz de manter atentas 20 mil pessoas, encantadas com seus sermões, por mais de duas horas. Durante 34 anos, a voz de George Whitefield ressoou na Inglaterra e América do Norte. Whitefield era um calvinista firme, de origem metodista. Era um evangelista agressivo que cruzou o Oceano Atlântico 13 vezes a fim de proclamar a salvação também na América. Ele se tornou o pregador favorito dos mineiros de carvão e dos valentões de Londres porque ia até eles em vez de esperá-los dentro das igrejas.
Histórico familiar - Whitefield, um pregador fascinante,contrariou todas as teorias "deterministas". Nasceu em uma taberna em que eram servidas bebidas alcoólicas e morreu pregando a Palavra de Deus como um dos mais sérios servos de Deus de toda a História. Seu pai faleceu quando ele ainda era um bebê. Sua mãe se casou novamente, mas a nova união não melhorou as coisas para o pequeno George, que continuava a limpar os quartos,lavar roupas e servir bebidas aos hóspedes da pensão de sua mãe.
No entanto, apesar de sua família não ser convertida ao Evangelho, Whitefield gostava de ler a Bíblia. Alguns historiadores afirmam que ele foi orientado a manter contato com a Escritura Sagrada por alguns clientes que passavam pela estalagem. Outros, no entanto,preferem atribuir o interesse de George pela Palavra a um milagre de Deus. O fato é que, desde cedo, ele demonstrou talento para a oratória. Alguns anos mais tarde, quando estudava no Pembroke College, em Oxford, Whitefield reunia com freqüência pequenos grupos de colegas em seus aposentos com o propósito de orar e estudar a Bíblia. Conta-se que não eram raras as ocasiões em que os presentes recebiam o batismo com o Espírito Santo.
Os biógrafos asseveram que ele dividia seu tempo livre de tal forma a ficar, aproximadamente, oito horas por dia em devoção a Deus. Na época, ainda jovem, trabalhava como garçom em bares noturnos como meio de sobrevivência. Naquele exato período de sua vida, o futuro pregador conheceu John Wesley e foi, então, que começaram a jejuar e a estudara Bíblia. Whitefiel compilou alguns dos conceitos mais famosos de Wesley,dentre eles: A verdadeira religião é a união da alma com Deus e a formação de Cristo em nós.
Ainda muito cedo, Whitefield teve de voltar para a casa de sua mãe para poder recuperar-se de um problema respiratório que o assolou em todo o seu ministério.
Para não perder o objetivo da obra de Deus,entretanto, George Whitefield montou uma pequena classe de estudos Bíblicos e começou a visitar os pobres e doentes da região. Os membros de sua igreja não ficaram indiferentes aquele talento e, embora fosse norma não consagrar ao pastorado alguém com menos de 23 anos, Whitefield tornou-se ministro do Evangelho aos 21 anos, por insistência daquela igreja. Mesmo antes de cumprir sua determinação pessoal, de escrever cem sermões para, mais tarde,apresentá-los à igreja e pleitear sua ordenação, Whitefied aceitou o desafio.
Suas primeiras pregações como ministro doEvangelho foram tão intensas, que algumas pessoas se assustaram. Os anciões daigreja, no entanto, deram-lhe apoio e ele entendeu, naquele gesto, uma liçãoque escrevera para a posteridade:
Desejo,todas as vezes que subir ao púlpito, considerar essa oportunidade como a últimaque me é dada de pregar; e a última dada ao povo para ouvir a Palavra de Deus. Curiosamente ele, raramente, pregava semchorar: Vós me censurais por quechoro. Mas como posso conter-me, quando não chorais por vós mesmos, apesar dasvossas almas mortais estarem à beira da destruição? Não sabeis se estaisouvindo o último sermão, ou não, ou se jamais tereis outra oportunidade dechegar a Cristo, admoestava.
Essa paixão irresistível pela pregação daPalavra é a melhor explicação para alguns fenômenos, ou melhor, milagresespirituais que acompanhariam a carreira ministerial de Whitefield. Em 1750,por exemplo, ele conseguiu reunir dez mil pessoas, diariamente, nas ruas deLondres durante 28 dias, em um evento que, hoje, chamaríamos de cruzadasevangelísticas. Entretanto, a diferença é que ele pregava em uma época em quenão havia microfones ou quaisquer outros recursos tecnológicos para ampliar ovolume de sua voz. Jornais daquela época registraram que Whitefield podia serouvido por mais de 1 km, apesar de seu corpo franzino e de sua voz fraca, porcausa dos problemas de saúde. Isso era um milagre de Deus com certeza.
Em outra ocasião, pregando a algunsmarinheiros, Whitefield descreveu um navio no olho de um furacão. O sermão foiapresentado de maneira tão real, que, no momento em que o pregador descrevia obarco afundando, foi interrompido pelo grito dos marinheiros apavorados com oque consideraram a própria visão do inferno.
Whitefleld, ao contrário do que muitosimaginavam, era um evangelista-missionário. Jamais quis abrir igrejas para levarseus milhares de convertidos. Pelo contrário: ele os orientava a procuraremigrejas locais. Isso porque, dizem seus biógrafos, sua missão evangelísticatomava-o de tal forma que não havia nele qualquer interesse na abertura detemplos ou em ter conforto. Nas 13 vezes em que realizou cruzadasevangelísticas nos Estados Unidos, Whitefield viajou, a princípio, paracolaborar com o orfanato que abrira no estado da Geórgia. Ele adorava pregarpara os órfãos e, para muitos deles, Whitefield era a única referência paterna.
Aos 65 anos de idade, já muito doente,Whitefleld ministrou durante duas horas para uma multidão que o esperava emExeter, Inglaterra. Na mesma noite, partiu para a cidade de Newburysport, a fimde hospedar-se na casa do pastor local. Durante a madrugada, falou ainda comalguns colegas por cerca de 30 minutos e subiu as escadas para o seudormitório. Lá, morreu, pregando a Palavra de salvação até o último minuto devida ao seu companheiro de quarto.
Fonte: Revista Graça, ano 2 n.º 21 – Abril/200
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