Por Tiago Oliveira
No dia em que o PMDB rompe com o Governo, tornando a queda de Dilma e Cia mais palatável do que nunca, também presenciamos a saída das sombras do principal idealizador do Manifesto Evangélico do Ministério Missão na Íntegra. O Sr. Ariovaldo Ramos, em evento realizado na Faculdade de Direito do Lago do São Francisco (da USP) leu o manifesto e deu declarações como esta:
“É um privilégio como evangélico e negro ter a possibilidade de lutar contra o golpe. Nós não podemos aceitar a reconstrução de uma senzala que ainda não terminamos de derrubar”.
Observem que Ramos classifica o impeachment - algo constitucional e que o PT endossou contra Collor e solicitou contra FHC - como golpe. Está muito nítido o seu apoio ao atual governo. Governo este que é detentor de uma imoralidade gritante, mas que não é criticado pelo líder do Missão na Íntegra. O seu apoio à agenda petista e seu plano de perpetuação do poder é tanto que ele se coloca dentro do projeto quando em sua frase há um “nós”. Vejamos outra pérola do Sr. Ariovaldo Ramos:
“Somos conservadores com a nossa fé e progressistas na vida social”
Sobre o progressismo a que o Ariovaldo se refere, o pastor e pensador, Guilherme de Carvalho comenta: “(...) há uma grave ambiguidade no uso da ideia de ‘progressismo’ sem a têmpera da noção de ordem criacional (...) e essa ambiguidade destrói a capacidade dos evangélicos progressistas de profetizarem contra os ídolos da esquerda”.[1] Isto é absolutamente observável na postura do líder do ministério Missão na Íntegra e no conteúdo do referido manifesto, que critica o poder judiciário, considerando sua postura excessiva, critica a mídia, acusando-a de alarmista e disseminadora de ódio, critica o elitismo da “ultradireita conservadora”, etc. Só não há nenhuma crítica referente às pedaladas fiscais, ao “petrólão”, a tentativa de obstruir a justiça nomeando o ex-presidente Lula para que se torne ministro e tenha foro privilegiado, enfim, silêncio total frente aos abusos, desmandos e disparates do lulopetismo. Ainda sobre a denominação progressista utilizada por Ariovaldo Ramos, o pastor Franklin Ferreira em sua obra mais recente pontua o seguinte:
Esses cristãos que militam em partidos e grupos de esquerda e extrema esquerda se autodenominam no Brasil de “cristãos progressistas”. Curiosa – e reveladoramente -, os católicos poloneses que apoiavam os nazistas antes da Segunda Guerra Mundial e os comunistas no Pós-Guerra também se chamavam “cristãos progressistas”.[2]
O progressismo que relativa os absolutos da Escritura e desconsidera a ordem criacional, como bem observou o Guilherme de Carvalho, tende a sintetizar o evangelho com ideologias. O resultado disso é idolatria. Foi exatamente isto o que cegou os católicos poloneses e também luteranos da Alemanha que viram Hitler e o Nazismo como a salvação do povo alemão. Ariovaldo e a corrente que ele representa, a Teologia da Missão Integral (TMI) tem sintetizado o evangelho com postulados marxistas. Com isso, o Evangelho é misturado a elementos não escriturísticos, sofrendo um acréscimo que remete a um culto idólatra e desemboca em apostasia.
O engraçado é que quando escrevi uma moção de repúdio ao manifesto do Missão na Íntegra, denunciando seu caráter pró-PT, muitos de seus defensores comentaram que minha leitura era desprovida de um real entendimento político, ou me acusaram de má compreensão e até de má intensão. Mas o que dizer agora diante destas frases do Ariovaldo que estão registradas no site oficial do Partido dos Trabalhadores, onde o mesmo se presta junto a outras figuras “evangélicas” a emprestar a sua imagem para apoiar o partido do Governo? Se tais continuarem a dizer que o documento é isento de partidarismo e a favor da democracia, veremos de qual lado está à desonestidade intelectual. Ademais, outro bastião da TMI parece ter se arrependido de ter subscrito o manifesto. Ed René Kivitz em tom de um desabafo desgostoso escreveu:
Lamento profundamente que a chamada Teologia da Missão Integral e o movimento que teve como marco o Pacto de Lausanne, celebrado em 1974, no Congresso Internacional de Evangelização Mundial na Suíça tenham sido indevidamente associados a uma ideologia, um partido político e seus respectivos personagens.[3]
Se o próprio Kivtiz, um dos primeiros nomes que vem a cabeça quando se fala em representantes da TMI no Brasil escancarou a faceta ideológica que corrompeu o termo cunhado em Lausanne, transformando em um braço do esquerdismo latino-americano, negar isso é um atestado de torpor ideolátrico.[4] O mais sensato e corajoso a se fazer é voltar atrás e reconhecer que, tal como classificou a Braulia Ribeiro em seu blog, o manifesto do Missão na Íntegra foi um erro histórico.[5] Continuar defendendo tal manifesto, vou mais além, continuar defendendo a TMI, é cometer suicídio moral e intelectual, maculando um segmento da igreja brasileira que na posteridade será visto como “a ala evangélica que apoiou o governo mais corrupto da história da nossa recente democracia”. Tudo em nome de que? De fazer perdurar uma ideologia que é antagônica ao cristianismo.
Que Deus se apiede da igreja brasileira!
Fonte: http://www.pt.org.br/
Via:http://www.pulpitocristao.com/
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