ENTREVISTA
Pastor Fausto A. Vasconcelos,
Diretor de Missão, Evangelização e Reflexão Teológica da Aliança Batista Mundial.
Pastor Fausto A. Vasconcelos,
Diretor de Missão, Evangelização e Reflexão Teológica da Aliança Batista Mundial.
Entrevista concedida ao Pr. José Carlos da Silva, por ocasião da realização do XI Confeban, nos dias 15 a 18 de novembro, em Campinas-SP.
Pastor José Carlos - Pastor Fausto, é uma alegria ter essa oportunidade de ouví-lo. Gostaria que o senhor falasse aos nossos irmãos sobre a Aliança Batista Mundial; o que é, como funciona e como a gente pode participar e conhecer essa instituição?
Pastor Fausto Vasconcelos - O prazer é todo meu de estar aqui em Campinas, participando deste XI Congresso Feminino Batista Nacional, evento que está sendo muito inspirado e inspirador, muito animado, com a presença maciça das senhoras batistas nacionais e a minha oração é pela bênção de Deus que está acontecendo aqui. A Aliança Batista Mundial é a maior organização batista em nível internacional que temos na atualidade. São 223 convenções ou associações batistas, em 120 países, num total de 178 mil igrejas batistas locais, com as quais cooperam 41 milhões de membros de igrejas. Acrescentando os não membros, como: parentes, amigos e frequentadores em geral, a nossa família batista chega hoje a 110 milhões em todo o mundo. A Aliança Batista Mundial procura então congraçar, inspirar, encorajar, liderar a essas pessoas e igrejas. Como diz o nosso tema: somos a rede de conexão com o mundo. Isto é, através da Aliança Batista Mundial as igrejas e convenções batistas se relacionam umas com as outras e juntas procuram estabelecer e cumprir a vontade de Deus.
Pastor José Carlos - Qual o grande desafio hoje, na sua ótica, da missão e evangelização do mundo? Como nós, como batistas do Brasil, podemos contribuir para a evangelização mundial?
Pastor Fausto Vasconcelos - Quando pensamos em evangelização e consideramos o que o mundo é hoje; a geografia do mundo, as várias etnias, parece-me que não temos mais o que existiu no passado: países que enviam e países que recebem missionários. Hoje nós temos todos os países enviando e todos os países recebendo missionários. Há uma tremenda mudança de paradigmas. Por exemplo, quando a ABM foi organizada em 17 de julho de 1905, vinte por cento dos cristãos estavam no hemisfério sul e oitenta por cento no hemisfério norte. Hoje, 105 anos depois, é o inverso: temos setenta por cento de cristãos no hemisfério sul e trinta por cento no hemisfério norte. Então, houve uma mudança tremenda, com vista a evangelização.Isto, porque crentes de outras gerações entenderam que Atos 1.8 tinha a ver com eles, tornando-se testemunhas do poder do Espírito Santo desde Jerusalém, Judéia, Samaria e até os confins da terra. Eu creio, então, que a evangelização hoje deve continuar a ser urbana, nacional e mundial. O crente deve também entender que ele precisa de falar; ele precisa de proclamar e não apenas dizer: eu estou vivendo o evangelho, mas de maneira silenciosa. Por outro lado, ele precisa também de viver o evangelho e não apenas falar o evangelho. O que eu quero dizer é que deve haver um equilíbrio entre o nosso testemunho verbal e o nosso testemunho existencial e relacional. Se assim não for, eu posso ser amigo de uma pessoa durante anos e anos e nunca desafiar aquela pessoa a cerca de um relacionamento pessoal com o Senhor Jesus. É preciso que haja essa submissão ao poder do EspíritoSanto e a disposição de dizer o que Jesus tem feito por nós.
Pastor José Carlos - Onde está localizada a Aliança Batista Mundial, como ela funciona, quais os comitês que a integram e de que maneira nossos irmãos podem obter mais informações sobre ela?
Pastor Fausto Vasconcelos - A ABM, como organização, está situada na cidade de Falls Church, no norte do Estado da Virgínia, dentro da grande área metropolitana da cidade de Washington. A ABM tem cinco objetivos estratégicos: comunhão e adoração, missão e evangelização, assistência humanitária e desenvolvimento sustentável, liberdade e justiça e também a promoção de uma reflexão teológica relevante. Com estes cinco objetivos estratégicos, ela procura desenvolver o seu ministério, através das divisões: de promoção, que inclui comunicação; de missão, evangelização e reflexão teológica; de liberdade e justiça, que por sinal está nas mãos de um outro brasileiro: o Pastor Raimundo César Barreto Júnior, de Salvador, Bahia. Então, através destas cinco divisões, mais tres departamentos: masculino, feminino e de juventude, a ABM procura encorajar as convenções e igrejas a ela filiadas para que em suas respectivas áreas geográficas, procurem trabalhar essas cinco áreas principais.
Pastor José Carlos - Há algum tipo de documento ou site que o nosso leitor possa acessar para se informar mais?
Pastor Fausto Vasconcelos - Há sim. O nosso site é: www.bwanet.org . Neste site tem a história da Aliança, os seus objetivos estratégicos, tem toda a estrutura da ABM. Para cada divisão, tem uma descrição. As várias comissões que compõem aquela divisão em particular. Tem também artigos em português e espanhol, press release. Enfim, uma série de documentos que podem ser acessados e pesquisados.
Pastor José Carlos - Como um brasileiro nascido em Bauru chegou até a Aliança Batista Mundial?
Pastor Fausto Vasconcelos - A minha história realmente começou em Bauru, onde eu nasci. Meu pai era pastor da Igreja Batista Bereana. Com dois anos e meio, meu pai aceitou um pastorado na cidade de São Paulo, então a família se mudou para lá e ali eu fiquei até os 19 anos, então fui para o Rio de Janeiro para estudar no Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil. Terminado o curso, eu que fora seminarista da Primeira Igreja Batista de Copacabana durante quatro anos, à época da minha formatura ela estava sem pastor. Então, ela me convidou, consagrou-me ao ministério e ali eu fiquei tres anos. Minha esposa Dione, que conheci naquela igreja fez o curso de música sacra no Seminário do Sul e em 76 nós dois fomos para os Estados Unidos para continuar os nossos estudos. Lá nasceram nossas filhas: Diane e Denise. Após quase dez anos nos Estados Unidos, retornamos ao Brasil e assumi, em 26 de outubro de 1985, o pastorado da Primeira Igreja Batista do Rio de Janeiro, sucedendo ao Doutor João Filsom Sorem, que foi presidente da CBB várias vezes e, inclusive, presidente da Aliança Batista Mundial. Depois de 20 anos no pastorado da igreja, recebi o convite da ABM para integrar a diretoria executiva, com duas divisões, há 6 anos: divisão de evangelismo e educação; e divisão de estudos e pesquisas. Essas duas divisões foram aglutinadas numa só: divisão de missão, evangelização e reflexão teológica. A trajetória foi esta, atendendo a uma condução divina e lá permanecerei de acordo com a vontade de Deus no tempo que ele me permitir.
Pastor José Carlos - Como foi participar daquele momento, em Niterói, num congresso de adoração promovido pela União Bautista da América Latina em que, à época o senhor representando a Convenção Batista Brasileira, como seu presidente, pode participar de um momento de reconciliação com os batistas nacionais, num abraço fraterno com o Pastor Enéas Tognini, à época nosso presidente, sob os auspícios e o cuidado do Pastor Nilson do Amaral Fanini. Um momento histórico, eu estava no templo naquele dia. Para nós, sabemos o significado, mas, como batista brasileiro que estava lá, qual foi a leitura que o senhor fez daquele momento?
Pastor Fausto Vasconcelos - A mim, representou muita coisa aquele momento. Eu tinha 14 anos quando houve aquela histórica assembléia convencional em janeiro de 65, naquele mesmo santuário. Eu estava sentado ao lado do meu pai naquela convenção. Então, eu vi o que aconteceu. Lembro-me até hoje daquela sessão crítica, quando houve a divisão ou cisma. Embora adolescente, eu pude perceber o que estava acontecendo, mas sem aquela maturidade e compreensão das implicações.Para mim ficou aquela indagação: por que será que o Espírito Santo, que é o espírito de toda consolação; que é o Outro, isto é, igual a Jesus, poderia estar causando uma divisão, quando, na minha visão de adolescente, deveria ser exatamente o contrário. Durante, longos anos esta pergunta ficou rondando dentro de mim. Em alguns momentos eu imaginava algum tipo de iniciativa que permitisse uma reaproximação, uma reconciliação. Isso, veio evoluindo dentro de mim. Naquele encontro que tivemos em Niterói, na noite anterior, participou um grupo de dança de adolescentes da Convenção Batista Nacional.
Pastor José Carlos - Grupo de dança da Primeira Igreja Batista de Brasília, que eu pastoreio hoje.
Pastor Fausto Vasconcelos - Elas estavam dançando ao som de uma música muita linda. Eu sentado, dizendo: que coisa, há 35 anos eu estava exatamente aqui neste lugar com o meu pai e hoje estou vendo neste mesmo santuário um grupo de adolescentes da CBN dançando e cantando num evento com a participação da CBB, CBN, ABM, UBRA e, já sabendo que no dia seguinte, eu e o Pastor Enéas Tognini estaríamos no púlpito ao mesmo tempo. Nós dois estaríamos entregando uma mensagem na mesma sessão. Ele como presidente da CBN e eu como presidente da CBB. O Pastor Tognini e a sua primeira esposa, Dona Nadir; e meus pais, foram grandes amigos. Eu sempre ouvi falar muito bem dele em casa. Então, eu sempre tive grande apreciação por ele. Naquela época eu pensava que a ABM havia colocado eu e ele dentro de um congresso em que estávamos todos nós, os batistas no Brasil, participando, com o propósito de uma reconciliação. Somente depois que eu fui para a Aliança é que eu fiquei sabendo que nada daquilo aconteceu de maneira planejada. Eles não tinham essa idéia. Não passou pela mente dos organizadores daquele congresso que aquele momento seria construído e planejado para o que foi. Mas, foi um momento muito especial. De repente eu, com 36 anos de diferença na idade, estava lado a lado com o Pastor Enéas Tognini, cada um representando uma convenção. Houve um abraço com a participação do Pastor Fanini, que era então o presidente de Aliança Batista Mundial. Foi realmente muito especial. Mas houve um outro momento muito marcante: foi em julho de 2001, eu estava no gabinete sozinho quando recebi uma carta entre outras; vi que o envelope vinha da CBN. Era uma carta assinada pelo Pastor Tognini em nome da CBN, dizendo que a diretoria, depois de oração, havia sido levada pelo Espírito Santo a fazer um pedido de perdão a determinadas pessoas e organizações, dentre elas a CBB. Eu estava sozinho e fiquei todo arrepiado. Eu disse, não é possível que eu estou lendo um carta como esta. Alguns dias depois, foi a reunião do Conselho de Planejamento da CBB em que eu presidi e então eu li a carta para todos e que resultou numa carta nossa, não apenas aceitando o pedido de perdão, mas também da nossa parte estendendo o nosso pedido de perdão. Então, de repente eu vi que aquilo que eu havia imaginado com 14 anos de idade, lá no santuário de Niterói, acabou acontecendo no momento em que eu, 35 anos depois, era o presidente da Convenção Batista Brasileira. Assim que, para mim, o significado daquele momento foi muito grande, porque foi o resgate de alguma coisa de garoto, que assistiu aquilo em pessoa e, nunca podia imaginar que decorridos aqueles anos todos, eu estaria tramitando aquele processo na condição de presidente da CBB.
Pastor José Carlos - Fiquei muito feliz com esta conversa e espero que, quando estiver novamente no Brasil, esteja conosco também e estreitemos cada vez mais os vínculos da nossa comunhão. Obrigado pela entrevista e que Deus o abençoe.
Fonte: Convenção Batista Nacional.
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