terça-feira, 12 de março de 2013

O primeiro culto protestante realizado no Brasil


10 de março de 1557 • O primeiro culto protestante realizado no Brasil
Catedral Presbiteriana, no Rio de Janeiro - Homenagem ao primeiro culto protestante realizado no Brasil e nas Américas

Cabe aos Cristãos Presbiterianos a honra de terem realizado o primeiro culto evangélico na história do Brasil e das Américas. Esse evento singular ocorreu neste dia, 10 de março de 1557, há 456 anos numa pequena colónia fundada pelos franceses na baía de Guanabara.



No verão de 1554 Villegagnon (Nicolas Durand de Villegagnon, Provins, Seine-et-Marne, França, 1510 – Beauvais-en-Gâtinais, 9 de janeiro de 1571) visitou secretamente a região do Cabo Frio, na costa do Brasil. Aí obteve valiosas informações junto dos Tamoios, informando-se dos hábitos dos portugueses naquele litoral, colhendo dados essenciais para o futuro projeto de uma expedição para a fundação de uma colónia.



O local escolhido localizava-se a cerca de duzentos quilómetros para o sul, a baía de Guanabara, evitada pelos portugueses devido à hostilidade dos indígenas da região. O projeto concebia transformá-la numa poderosa base militar e naval, de onde a Coroa Francesa poderia tentar o controlo do comércio com as Índias. Se bem que na ocasião Villegagnon não a tenha visitado, estava bem informado acerca dela por André Thévet, que já a havia visitado por duas vezes, estando ciente de que os portugueses receavam os Tupinambás, indígenas aí estabelecidos. Naquele verão de 1554 Villegagnon teve boas relações com ambos os povos (Tamoios e Tupinambás) recolhendo, além de valiosas informações, uma boa carga, com a qual lucrou no seu regresso à França.



Depois, Villegagnon foi à corte francesa onde fez uma demorada exposição de quatro horas ao soberano e a Diana de Poitiers, convencendo-os das vantagens de uma colónia francesa permanente na costa do Brasil.



Em fins de 1554, o rei de França ordenou ao almirante francês, Gaspard de Coligny, (ainda católico naquela época), a preparação de uma expedição sigilosa ao Brasil, cujo comando entregou a Villegagnon. Ainda que o rei tenha fornecido recursos modestos, apenas dez mil libras para custear a expedição, os armadores de Dieppe, a base do armador Jean Ango, com experiência da costa brasileira, decidiram investir na expedição. À falta de voluntários para a integrar, Villegagnon percorreu as prisões da região do Norte da França, prometendo a liberdade para quem quer que se lhe juntasse.



Para não despertar a atenção do Ministro de Portugal na França, Villegagnon fez espalhar a notícia de que a expedição se dirigia à costa da Guiné.



Desse modo, a expedição zarpou de Dieppe a 14 de agosto de 1555, com duas naus e uma naveta de mantimentos, nas quais se comprimiam cerca de seiscentas pessoas. Villegagnon era protegido por uma pequena guarda pessoal de escoceses. A expedição era integrada por um índio Tabajara, na qualidade de intérprete, na companhia de sua esposa, francesa.



Acompanhava-a ainda André Thevet, que nos legou um relato sobre os primeiros momentos do estabelecimento: "Les singularitez de la France Antarctique". Mais tarde, ele tornar-se-ia o principal cosmógrafo de Carlos IX de França. Por razões de saúde, entretanto, Thévet regressaria à França em 14 de fevereiro de 1556. Destacavam-se ainda, os seguintes passageiros: Boissy, sobrinho de Villegagnon, senhor de Bois-le-Comte; Nicolas Barré, ex-piloto, que também deixou uma memória da expedição: "Discours de Nicolas Barré sur la navigation du Chevalier de Villegagnon en Amérique" (Paris: Le Jeune, 1558); dois beneditinos, conhecedores de botânica, que criaram a primeira escola católica em Guanabara.



O objetivo da expedição era: instalar núcleos colonizadores para o comércio com a Metrópole, isto, a França, e interferir no comércio marítimo com as Índias.



Após serem repelidos nas ilhas Canárias pela artilharia da guarnição espanhola de Tenerife, alcançaram a costa do Brasil, na altura de Búzios, em 31 de outubro de 1555. E atingiram a baía de Guanabara em 10 de novembro de 1555.



Instalaram-se nas margens da Guanabara, na região da atual praia do Flamengo, entre a foz do rio Carioca e o outeiro da Glória. Ali se projetava o estabelecimento de Henriville, em homenagem ao rei Henrique III de França.



Fortificaram a ilha de Serigipe, escolhida como local de estabelecimento da principal defesa da França Antártica. Para esse fim, foram providenciados alojamentos em terra e desembarcados homens, armas, munições e ferramentas. Apesar das dificuldades com a mão-de-obra europeia, graças ao auxílio dos indígenas, o forte foi concluído em três meses. Ao fim de alguns meses, entretanto, essa mão-de-obra cansou-se dos presentes que recebia, assim como do excesso de trabalho, uma vez que os franceses esquivavam-se das tarefas mais pesadas. Quando concluído, o Forte Coligny dispunha de cinco baterias apontadas para o mar.



Perante as várias dificuldades surgidas na vida da nova colónia, Villegaignon, que era Cristão Católico Romano, foi um cavaleiro da Ordem de Malta, pasmemo-nos!, escreveu à Igreja Reformada de Genebra solicitando o envio de pastores e colonos evangélicos que contribuíssem para a elevação do nível moral e espiritual da colónia! Coligny convidou para liderar o grupo um seu ex-vizinho, Filipe de Corguilleray, conhecido como senhor Du Pont. Por sua vez, João Calvino, o grande Reformador de Genebra, e os seus colegas alegremente escolheram para acompanhar os colonos os pastores Pierre Richier, de 50 anos e Guillaume Chartier de 30 anos. Os dois pastores tinham como dois objetivos específicos: implantar a fé reformada entre os franceses e evangelizar os indígenas.



Os huguenotes, (isto é como eram chamados os protestantes franceses - que era quase sempre calvinistas- pelos seus inimigos religiosos nos séculos XVI eXVII), que os acompanharam foram Pierre Bourdon, Matthieu Verneil, Jean du Bourdel, André Lafon, Nicolas Denis, Jean Gardien, Martin David, Nicolas Raviquet, Nicolas Carmeau, Jacques Rousseau e o sapateiro Jean de Léry, que seria o cronista da viagem, que escreveria a obra “Viagem à Terra do Brasil” que foi publicada em 1578. Eram ao todo 14 pessoas. O grupo deixou Genebra em 16 de setembro de 1556. E, após visitarem Coligny, seguiram para Paris, onde outros se uniram à comitiva. Alguns pensam que entre eles estava Jacques Le Balleur. No dia 19 de novembro desse mesmo ano embarcaram para o Brasil no porto de Honfleur, na Normandia.



A frota de três navios, comandada por Bois Le Conte, sobrinho de Villegaignon, levava cerca de 290 pessoas, inclusive algumas mulheres. Como de costume, a viagem foi muito penosa. A certa altura, diante da situação em que se achavam, os reformados recitaram o Salmo 107:23-30 “Os que descem ao mar em navios, mercando nas grandes águas, esses vêem as obras do SENHOR e as suas maravilhas no profundo. Pois ele manda, e se levanta o vento tempestuoso, que eleva as suas ondas. Sobem aos céus, descem aos abismos, e a sua alma se derrete em angústias. Andam e cambaleiam como ébrios, e esvai-se-lhes toda a sua sabedoria.”



Finalmente, no dia 7 de março de 1557, os viajantes entraram no “braço de mar” chamado Guanabara pelos selvagens e Rio de Janeiro pelos portugueses.



O desembarque no forte Coligny deu-se neste dia, 10 de março de 1557, uma quarta-feira. Villegaignon recebeu o grupo afetuosamente e demonstrou alegria porque vinham estabelecer uma igreja reformada (Como é que isto é ou foi possível, vindo dum fervoroso Cristão Católico Romano??!! Pessoalmente fico com muitas dúvidas pelas manifestações de alegria de Villegaignon e das boas intenções dele!). Logo em seguida, reunidos todos numa pequena sala no centro da ilha, foi realizado um culto de ação de graças, o primeiro culto protestante ocorrido nas Américas, no Novo Mundo!



O pastor Richier orou invocando a Deus. Em seguida foi cantado em uníssono, segundo o costume de Genebra, o Salmo 5: “Dá ouvidos, Senhor, às minhas palavras”. Esse hino constava do “Saltério Huguenote”, com metrificação de Clement Marot e melodia de Louis Bourgeois, e ainda até hoje se mantém nos hinários franceses. Bourgeois foi diretor de música da Igreja de Genebra de 1545 a 1557 e um dos grandes mestres da música francesa no século XVI. A versão mais conhecida em português, “À minha voz, ó Deus, atende”, tem música de Claude Goudimel (†1572) e metrificação do Rev. Manoel da Silveira Porto Filho.



Em seguida, o pastor Richier pregou um sermão com base no Salmo 27:4: “Uma coisa peço ao Senhor e a buscarei: que eu possa morar na casa do Senhor todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do Senhor e meditar no seu templo”. O que seria então o primeiro sermão protestante em todo o Novo Mundo!



Outras fontes referem que o pastor Richier pregou um sermão com base no Salmo 27:3 “Ainda que um exército me cercasse, o meu coração não temeria; ainda que a guerra se levantasse contra mim, nele confiaria.”



Após o culto, os huguenotes tiveram a sua primeira refeição brasileira: farinha de mandioca, peixe moqueado e raízes assadas no borralho. E dormiram em redes, à maneira indígena!



A Santa Ceia segundo o rito reformado foi celebrada pela primeira vez no domingo, 21 de março de 1557.



Infelizmente (!?), Villegaignon acabou entrando em conflito com os huguenotes sobre questões doutrinárias e expulsou-os da colónia. Acabando por terem de partir de regresso ao Velho Continente em 4 de janeiro de 1558, a bordo dum velho navioEntretanto, o capitão deste velho navio avisou que a viagem iria ser difícil e não haveria alimento para todos os passageiros. Perante isso, cinco huguenotes ofereceram-se para não embarcarem, voltaram para terra. Inicialmente Villegaignon recebeu-os de modo cordial, mas logo os acusou de serem traidores e espiões. Formulou um questionário sobre pontos doutrinários e deu-lhe doze horas para responderem por escrito. Eles responderam e o resultado foi a elaboração da bela “Confissão de Fé da Guanabara” ou “Confissão Fluminense”.



Villegaignon declarou heréticos vários artigos e decidiu pela morte dos reformados. No dia 9 de fevereiro de 1558, Jean du Bourdel, Matthieu Verneil e Pierre Bourdon foram estrangulados e lançados ao mar. André Lafon foi poupado devido às suas vacilações religiosas e também pelo facto de ser o único alfaiate da colónia(!).Jacques Le Balleur conseguiu fugir para o continente e vagueou até São Vicente, tendo sido poupado de ser devorado pelos índios por ter com ele um livro, que os Tupinambás pensaram ser a tão esperada e prometida Bíblia, que era tida como um amuleto. Tratava-se de uma obra de Rabelais. Em São Vicente os jesuítas forçaram a Câmara a prendê-lo em 1559. Foi torturado para dar informações estratégicas do Forte Coligny. Levado a Salvador, onde Mem de Sá concordou em condená-lo por ser seguidor da fé protestante. Em 1567 Jacques Le Balleur foi levado para o Rio de Janeiro, onde seria executado, mas o carrasco recusou-se a matá-lo. E em 9 de fevereiro de 1558, o Padre José de Anchieta estrangulou-o. Jacques Le Balleur e os seus companheiros ficaram conhecidos como os mártires calvinistas do Brasil.



França Antártica, a efémera presença calvinista no início da história do Brasil não produziu efeitos permanentes. Não foi possível aos reformados alcançar os seus dois intentos principais: criar uma igreja reformada e evangelizar os nativos. Todavia, esse episódio é considerado um marco significativo na história das missões cristãs, pois foi a primeira vez que os protestantes procuram anunciar a sua fé a um povo pagão. A França Antártica entrou para a história como a primeira tentativa de se estabelecer uma igreja e um trabalho missionário protestante na América do Sul. O fruto mais duradouro do singelo empreendimento foi a bela confissão de fé selada com sangue, a “Confissão de Fé da Guanabara” ou “Confissão Fluminense”.



Artigo de Carlos António da Rocha

Fonte: http://no-caminhodejesus.blogspot.com.br/2013/03/10-de-marco-de-1557-o-primeiro-culto.html 

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